5.7.07

Mas afinal, depois de tanto post ilustrativo, o que é que os Arcade Fire (e já agora o Sete Palmos de Terra) têm de especial?

Depois dos incontáveis - leia-se inexistentes - pedidos, achei que devia tentar explicar o porquê de tanta euforia com a melhor banda do século XXI e do XX se por lá tivesse andado. Estarei a exagerar? Talvez, mas não creio. Nas primeiras horas de uma quarta-feira, dia quatro de Julho do ano dois mil e sete, D.C., algumas almas - as que estão por dentro do fenómeno e todas as outras que presenciaram o concerto - terão sentido qualquer coisa entre um orgasmo universal e a descoberta do sentido da vida. Estarei a exagerar? Ok, talvez um pouco, mas andou lá perto. Segundo me diz MA ao telefone, é já lugar comum associar os Arcade Fire a uma celebração, a uma comunhão com a vida, enfim, a uma experiência quase religiosa. Para quem os ouve como se esperasse algo assim desde que começou a ouvir música - que é, acredito, o que se passa em larga escala - é impossível fugir disso. Não se deixem enganar, não se trata de uma celebração meramente festiva, nula em conteúdo, para isso vamos ao bailarico da terra e tudo bem, o pessoal diverte-se, volta para casa, e amanhã é outro dia, que por sua vez é igual a tantos outros. A maior parte das diversões é assim, talvez para se manter a possível sanidade mental. Mas os Arcade Fire - e aqui traço o paralelismo com a série Sete Palmos de Terra - não fogem das amarguras da vida, não as escondem, não as ignoram, nem se limitam a enumerá-las à distância como uma sequência de notícias de telejornal, antes absorvem-nas como podem e seguem em frente, num processo de constante reconstrução a partir das cinzas. Na sequência da dor, vê-se que há ali uma enorme vontade de viver, não propriamente num sentido anárquico, hedonista, ou simplesmente despreocupado - disso já houve exemplos artísticos mais que suficientes -, mas antes uma vontade que custará o que tiver de custar e que é em grande parte erigida sobre as pessoas que já não (lhes) existem - seja na realidade dos músicos ou na ficção das personagens da série. Faz todo o sentido que assim seja: talvez só o testemunhar de tal efemeridade tenha a capacidade de nos despertar para qualquer coisa significante. Nestes dois casos, na pior das hipóteses, fica-se com uma sensação de esperança para todos nós, os que existem e os que estão por existir. Consegue-se acreditar em algo de melhor, seja lá o que isso for - e aqui entra a parte quase religiosa.
Ao assistir a um concerto, é óbvio que não se pára entre as músicas para pensar nisto. Esse é o momento da tal comunhão, entre uma plateia que de alguma forma se identifica com os artistas, através da sua música, e os próprios artistas que, mais do que identificarem fiéis, encontram alguém com quem partilhar o que lhes é valioso. A euforia colectiva que daí resulta é o expoente máximo de toda a experiência. É mais tarde, assente que está a poeira, que tudo isto fica. E isso já quer dizer muito.

P.S. - Só mais uma youtubada e prometo acabar com posts sobre os Arcade Fire.

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