I. No princípio existia o nada. Depois surgiram os Radiohead, lá para 1993. Com o primeiro álbum, Pablo Honey, ninguém no seu perfeito juízo apostaria no futuro de um espécie de one-hit wonder algures entre a britpop e um grunge mal amanhado, que cantava dores de amor e angústias existenciais pouco mais do que adolescentes. No entanto, uma ou outra música perdida lá no meio (e no fim, também) poderiam apontar um futuro diferente, menos previsível, mais experimental e progressivo. O one-hit wonder foi, obviamente, Creep, mas a preferida aqui do Professor O. - alter-ego que fala de si na 3ª pessoa e que sabe destas coisas - é Blow Out.
II. Lá para 1995, e apenas à segunda tentativa - que toda a gente sabe que é a mais difícil na música -, ultrapassaram as previsões mais optimistas e apresentaram um álbum pouco menos do que fenomenal, de seu nome The Bends. Aqui, a britpop dava lugar à dreampop e o grunge transformava-se num rock inovador, mais arriscado. As letras abandonavam o estilo angústia existencial adolescente e passavam a angústia existencial adulta - e acima de tudo bem mais poética. Planet Telex, High & Dry, Fake Plastic Trees, Nice Dream, Just, Bullet Proof...I Wish I Was, Street Spirit, é sempre a aviar...
III. Em 1997, quando a angústia existencial ganhou alguma consciência política, e o som, já característico, se cruzou com uma electrónica imaginativa mas nunca excessiva, os Radiohead presentearam os anos 90 com OK Computer, álbum que ficaria para a posteridade como o maior marco musical da década no seu género, e sem qualquer exagero. Expressões como queremos que este álbum seja o nosso OK Computer, ou gostávamos de fazer algo como o OK Computer, tornaram-se recorrentes entre membros de outras bandas em entrevistas por este planeta fora. Se existe alma neste mundo que nunca ouviu Airbag, Paranoid Android, Subterranean Homesick Alien, Exit Music (For A Film), Let Down, Karma Police, Fitter Happier, Electioneering, Climbing Up The Walls, No Surprises, Lucky ou The Tourist - sim, o álbum todo dito assim de enfiada e sem recurso a cábula - então é tempo de fazer uma reavaliação à sua vida e pensar, sinceramente, se deveria continuar.
IV. De créditos já firmados, os Radiohead decidem contrariar a confortável lógica e editar em 2000 o álbum Kid A, no qual a electrónica, sem nunca deixar de ser minimalista, assume um papel principal. As letras são reduzidas ao mínimo essencial, em extensão e em sentido, e tudo o que se ouve por aqui leva-nos à contemplação de um universo futurista, angustiante, alucinado. É, porventura, o álbum mais díficil de Radiohead, especialmente para quem esperava ouvir um Ok Computer 2. No entanto, é também o mais conceptual e cinematográfico e, talvez por isso, o que melhor se ouve de olhos fechados e phones nos ouvidos, da primeira à última música. Se mesmo assim precisam de referências, ouçam Everything In Its Right Place, The National Anthem, a sequência Optimistic-In Limbo, Idioteque, Morning Bell e Motion Picture Soundtrack.
V. Logo de seguida, em 2001, a banda decide lançar Amnesiac, um álbum de canções gravadas ao mesmo tempo das de Kid A, mas que por uma ou outra razão - talvez por se afastarem daquele registo minimalista - ficaram fora desse álbum. Os Radiohead sempre se recusaram a catalogar este trabalho como um disco de lados B, e em certa parte compreende-se: se isto são os lado B de Radiohead, então os Radiohead B também fariam parte das nossas bandas preferidas. Momentos sublimes como Pyramid Song, Knives Out, ou Life In A Glasshouse seriam, provavelmente, as melhores músicas de muitas outras bandas já consagradas, mas quando a bitola está tão alta... No mesmo ano lançaram ainda o álbum ao vivo I Might Be Wrong, que basicamente serviu para que tristes pessoas como eu - que nunca os tinha visto ao vivo, a cores e a sons - pudessem ter um cheirinho da coisa (problema entretanto resolvido).
VI. Chegados a 2003, os Radiohead são uma banda que já nada tem a provar, e mesmo editando um excepcional Hail To The Thief, já não conseguem surpreender. E as razões são simples: o facto de o terem feito em cada álbum anterior afastou a possibilidade de uma nova surpresa, além de que já toda a gente esperava que o nível se mantivesse alt(íssim)o. Ainda assim, 2+2=5, Sit Down. Stand Up, Sail To The Moon, We Suck Young Blood, I Will, A Punchup At a Wedding, Scatterbrain e A Wolf At The Door são puro deleite para os ouvidos. A posição de Radiohead no panorama musical já não tem grande discussão, quer entre público minimamente informado, quer entre pares: são os maiores!
VII. O ano é 2007. Os Radiohead acabam de gravar novo álbum, In Rainbows, mas não têm editora. Não há crise, põe-se na net para download ao preço que se quiser (inclusivé zero), que é uma atitude bonita e não desilude ninguém - excepto as editoras que ficaram a chuchar no dedo. Apesar de já o ter sacado, só ouvi 3 músicas, pelo que ainda é cedo para fazer qualquer tipo de observação. Para os que já começam a ter opinião formada, façam o favor de partilhar de modo a encerrar este capítulo. A minha aposta vai para mais um álbum brilhante, mas futuramente subvalorizado pelas mesmas razões de Hail To The Thief - suponho que isso sejam apenas as agruras de todos os percursos de excelência, mas com isso podem bem as nossas vidas...
P.S. - Sim, gosto bastante de Radiohead e talvez este post esteja um bocadinho, mas só mesmo um bocadinho, exagerado.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário